quinta-feira, 26 de março de 2009

intersexualidade

o último encontrinho foi sobre o texto da fausto-sterling dos cinco sexos. o sítio da fausto-sterling tá ali nos nossos links; e lá tem, pra quem tá interessad* em continuar esse debate que deu pano pra manga nas últimas aulas (sobre os limites da discussão natureza/cultura), uma série de textos bacanas. um texto bacana pra responder a pergunta ainda não respondida da michelli é o "is gender essential?" que fala um pouco dos usos da categoria gênero nos estados unidos, primeiramente pelo sexólogo jonh money que estudava intersexualidade e transexualidade e usava a palavra para falar do sexo que está na nossa cabeça. para ele existia o "sexo" como sexo físico/corporal e o "gênero" como sexo mental. isso na década de 50.

mais tarde, lá pela década de 70, as feministas passaram a usar o termo também (com ou sem consciência do seu uso por sexólog*s). mas ai, como pra monique wittig, o "sexo social" é entendido não como mental propriamente (se temos uma imagem de mental como algo que está mais pro físico, como reações físico-químicas num cérebro e não se temos ma imagem de mental como o que fica indecidivelmente entre natureza e cultura), mas como uma criação ideológica que se materializa nos corpos, que molda e toma forma corporalmente.

o gênero, em sentido amplo, está ligado a idéia de que não é nossa genitália, ou nosso cariótipo que define se somos homens ou mulheres. "homem" e "mulher" são gêneros, enquanto "macho" e "fêmea" são sexos. o pulo do gato é saber como passamos de sexo para gênero. tanto para sexólogos como john money, quanto para as feministas da década de 70 gênero era algo sobre socialização, sobre a emergência de um sujeito em sociedade.

tentamos de alguma forma, passar ao largo dessa noção de gênero, porque é uma noção complicada e que tem sofrido uma série de críticas. particularmente porque, ao instituir essa divisão entre o que é natural e o que é cultural efetiva-se uma reificação do natural, que passa sem ser questionado.

tentei fazer um laço entre a noção de wittig de sexo e a de fausto-sterling. sabendo que é um campo espinhoso, e justamente porque essa tensão entre o que poderíamos chamar de "biológico" e "político" já tinha aparecido com força na aula sobre wittig na discussão entre michelli e ludmila. pensei em colocar dois diagramas no quadro, um representando o conceito de sexo de wittig e um representando (isso foi tosco) um conceito de sexo “biológico” sob o nome da fausto-sterling; isso foi tosco porque, de fato, fausto-sterling está querendo propor uma naturo-culturalidade do sexo [naturo-cultura é um conceito que donna haraway desenvolve no seu manifestinho das espécies companheiras - companion species manifesto - para insistir que não há uma ruptura entre natureza e cultura e que o biológico é político ]. era isso que tentava sinalizar quando disse que a divisão entre as duas posições era tênue. não dá pra entender natureza como um conceito estanque, ou melhor, entender natureza substancialmente (ou seja, como aquilo que é o mais básico, substrato passivo e que permanece idêntico a si mesmo) é já coloca-la como um fundamento não passível de investigação. celia roberts, outra bióloga feminista, adverte que o perigo, para feministas, da rejeição da biologia (a ciência) como essencialista é que acaba por reafirmar a biologia dos corpos como algo incognoscível, para além do social, inacessível inclusive ao escrutínio e a crítica feminista.

acho que a "pegada" de fausto-sterling é bem próxima à de donna haraway: vamos levar a sério a idéia de que a biologia seja politicamente influente/informada. e ainda mais: vamos olhar para os dados que são apagados por uma visão interessada no geral e não no particular. vamos levar a sério a exceção; não porque ela confirme a regra, mas porque ela mostra que nós estabelecemos um critério para dizer o que conta e o que não conta.

fausto-sterling propõe mermes, fermes e hermes. mas o que ela se esquece é que na intersexualidade cada caso é praticamente único; e transforma-las em categorias é também instituir algum privilégio do geral...
as imagens que ilustram essa postagem são:
1- a lá de cima mostra a tranformação, num feto, de estruturas indiferenciadas sexualmente para uma genitália masculina / feminina; bem como os dutos e etc. acho ela bacana porque dá pra entender melhor e ver como algumas outras genitálias ficam no entre.
2- essa aqui embaixo são 4 diagraminhas e desenhos de 4 casos diferentes de pseudo-hrmafroditismo feminino; suponho que um dos dois primeiros diagramas represente uma configuração bem próxima a de emma

coloco, ainda, pra vocês o link do sítio da isna (intersex society of north america) lá existe um artigo sobre o caso que a gente começou a citar brenda/david ou ocmo também é chamado joan/john. http://www.isna.org/faq/reimer e de lá dá pra achar outros links de artigos sobre o caso. ah, tem outro texto na intersexualite. org sobre o caso brenda/david, em espanhol:

beijos e até terça

2 comentários:

  1. Que lindo! Quero tempo para ler tudo e postar direito!!!!!


    ;*

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  2. Meninxs,

    bloguem a sapataria aí no "Enlaces": sapatariadf.wordpress.com

    Beijas!

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